Poema Ocidental Praia (extraido de Lyric Intuition de Misha Kula)

sexta-feira, 12 de outubro de 2007

Sinto-me acabado

Um desses dias que não vale a pena mencionar

Um desses momentos em que desejamos cair no vazio

Cair na sombra existencial com aquele típico

desejo de gritar um sonoro palavrão que de palavrota não tem nada

Como superficial é o desejo

Como vazia é a realidade informativa que nos servem todos dias a hora do jantar

Como é triste querer abandonar tudo

Será a justiça uma mulher cheia de vícios

Continuará vendada e cega!?

Auxiliará os ricos e fortes homens da nação como sempre o fez indiscretamente sorridente em todos aqueles media reports que nos servem diariamente a hora de (des)jantar?

E o suor?

E o suor do workin´ man digo eu!

Será enxugado com o lenço de seda purpura de nossa bela donzela cega?

O pobre vagabundo terá a sua fome saciada por essa dona de casa sofisticada e In justa?

Porquê viver esse prejuízo?

Ela não passa de uma puta fodida e bem paga pelo chulo Estado que nos controla

O mesmo passa-se com o boletim informativo que me deprime

Está vendido!

E em todo lado os vermes se refastelam com as tristezas de outros nós que somos...

Somos incrivelmente tediosos e incapazes

Não vemos o bonito que és

Tu

minha ocidental praia lusitana

aquele mar azul de aguas refrescantes

aquele sol fénix que nos ilumine para uma nova busca

Choro por ti País

Talvez seja o excesso de fado

esse tão tuga defeito de não interferir com o rolar do tempo

Seguiremos o destino até ao fim!

De nada serve quebrar essas correntes

Correntes de almas errantes e perdidas na névoa espessa de incerteza

De tuas entranhas sobressae a fértil vinha de Dionísio

O aroma dos olivais agudiza o paladar de viver

Os pinheiros aromatizam o ar de verão

Tua fauna deve ser preservada

Imperativamente!

Já!

Os riachos cristalinos me banham nessa saudade de ter longe

Revive meu país

Reergue-te imponente carvalho

E em todo lado os vermes se refastelam com as tristezas de outros nós que somos...

Somos incomensuravelmente nefastos

Alimentamos-nos do teu sangue

Não vemos o que és

Tu

País nunca dantes deslumbrado

Ocidental oásis entrincheirado

Eterna periferia

Como é triste tentar recordar-te em retina ausente

Tua geografia já me falha

Tua gastronomia já não me sabe a vida

És estranho mas belo

Indefinido mas simples

Sinto-me como um amnésico que volte a reviver o teu sentir de forma diferente

Aquelas novas sensações vindo del olvido

Vindas do silencio quebrado pela respiração mecânica

Sinto a tua falta neste exílio

Continuarás a considerar-me filho?

Terei amparo em teus braços?

Não te conheço!

Ficciono-te

Nada mais... Nada mais!

Não passo de mais alguém que te abandonou

Eterna mãe solteira

Ocidental praia abandonada

Deixei-te nas mãos deles! Deles todos!

E como em todo o lado os vermes se refastelam com as tristezas de outros nós que somos...

Somos incrivelmente patéticos

Não vemos quanto sofres

Quanto suspires

Serás o eterno povo que sofre nas mãos desses aristocratas do novo ordem

Desses energúmenos que mantém o status quo sem cambio nem mudanças

Que te deixem viver na miséria e ignorância meu triste povo

Que te vendem todos os dias a hora do jantar

Malditos informativos de um pais de mil maravilhas que agoniza na pobreza de seu fado triste

Vendem-te em fatias

Vendem-te descaradamente a cada hora, a cada dia... vendem-te como escravo aos amigos internacionais do capital

Em cada instante se clava bem fundo nesta nossa carne a putrificar esse punhal de opressão

Esses charlatães sempre viveram no manto de seda do topo da pirâmide

Sempre afiaram em meio de rubís e ouro negro esse punhal sorrindo frente a flashes e bebendo em copos de cristal a promissora conclusão de um novo assassinato

Não te conheçam pobre povo

Esfolam-te

Assassinam-te!

Governam-te esses incultos da verdade.

Geram-te como imperialistas degradantes e ignóbeis

És o escravo que trabalha e sofre

És a província... O campo que alimenta essa puta que se exibe diariamente e quotidianamente a maldita hora de (des)jantar

Deprimo-me!

Que mais posso fazer?

Vazio minha alma de lágrimas

Abro o caminho a pena

E sinceramente...

Sinceramente espero que quebre esse pugnal

Espero...

Pacientemente espero...

Espero que um dia este texto exploda

Que um dia te dê vida

Que esse dia seja passado

Bye triste povo

Farewell ocidental praia

Adeus

Entretanto impunes... E em todo o lado...

Esses vermes se refastelam com essas tristezas que outros nós somos...

5 comentários:

Anónimo disse...

Hi Misha!
Finalmente tens um blog...mais vale tarde que nunca, não?
O poema que apresentas é sem duvida um bom prelúdio do que podemos esperar deste teu cantinho na blogosfera. Finalmente vais poder compartir com o mundo o teu génio/arte, arte e génio que os teus amigos felizmente conhecemos, mas que agora toda a gente terá possibilidade também de conhecer.
Espero que actualizes frequentemente este mishakula.blogspot.com ...
Um leitor fiel já tens.
Be Kool ;)

mishakula disse...

partilhar o meu génio e arte? onde ? lol :) já tenho um leitor, nada mau... a trabalhar nisso então.
vou ver se não defraudo.
thanks Kompostela :)

dmc disse...

Ora então o prometido texto da minha Viagem de Despedida", de 1999...


VIII
Eu sou a injustiça. Manifesto-me e crio mil e uma oportunidades de se fazer justiça. Mas é tão raro ver a minha cara-metade. Como é possível tanto Homem não passar de macaco... de imitação?! Vêem-me e acham-me bela e lançam mais uma parte de mim ao mundo. E eu sinto-me fraca, desmembro-me e morro, pois apenas me manifesto para encontrar a outra face da moeda que me tem.
Ou então, julgam-me tão feia que me tentam matar, e gastam-me. Esquecem-se que ao gastar um lado da moeda, gastam o outro. E gastam. Cometem-me em nome da minha irmã, e vangloriam-se.
E nós morremos, ambas.

Ah Ah Ah! Que piada!

dmc disse...

Quanto ao teu poema, propriamente, repito em público o que te disse em privado:
Está muito forte e belo!
Abraço

noEnigma disse...

Ola Misha!!! Parabens pelo poema!!! Tens jeito... Sinto-me de certa forma, descoberto, pelo Teu extracto de literatura! "Terra Amada, porque nao me deixas cuidar de Ti..." Abraço e fika bem.

P.S.Ah, é verdade, teu link ja esta no meu blog, e se nao te importas, irei colocar e dedicar este poema num post do Vivencias