Ares de Abril Extraído de Lyric Intuition de M. Kula

quarta-feira, 2 de janeiro de 2008



Anoiteceu como em tantas outras noites

Lá fora. A brisa fria de Abril sensibilizava os corações dos puros que na gélida noite arriscavam tudo.

Arriscavam tudo para que amanhecesses feliz.

Para que todos vivessem livres da hipocrisia e opressão.

Para todos sorrirem

E assim aguardavam o sinal.


O sinal que os tornaria valentes heróis da mais bela passagem da humanidade.


A marcha ecoou pelas ondas da radio.

A sinfonia de liberdade e fraternidade sobre a aldeia com postos de igualdade sob a sombra de uma azinheira poderia tornar-se realidade...

E assim foi dado o sinal.

E assim os valentes heróis marcharam sobre a velha Hulissipone

A fria noite suspirava ares de mudança.


O país dormia. Os sonhos amparavam os nossos incógnitos heróis.


O batalhão dirigia-se ao centro do poder opressor montado em velhas chaimites já nessa altura em desuso.

O medo transpirava pelas suas frontes de ingênuos peãos de xadrez.

Não podiam recuar. Não podiam ser julgados.

Caminharam e amanheceu.

Chegaram à cidade.


Deslumbraram-se com a bela princesa do Tejo


O sol começava a iluminar as fachadas barrocas. O sol dava o cintilante tinte dourado ao esplendoroso rio Ibérico que serpenteia até ao atlântico já na esquina.

A jovem naíve sereia deste dia especial preparava-se para o trabalho seu ganha pão.

Colheu as belas flores da primavera que o seu coração indicou

Dirigiu-se para o destino.


O fim de um regime nefasto


Caminhou ela por uma cidade estranhamente deserta.

O pelotão de nossos bravos encontrou-se com outro batalhão a mando das sanguessugas ao poder

Os olhares dos samurais encontraram-se entre as G3 (baionetas do nosso tempo).

Aí um brilho inusual cintilou nas retinas dos guerreiros.

Irmão frente a irmão nenhuma gota de sangue deve ser derramada


E assim um abraço os uniu para o novo caminho


Uma nova existência


Nossa musa chegou ao restaurante. O patrão exigiu que voltasse para casa.

Que dados estavam lançados para a revolução

E as flores! Disse ela

Volte para casa menina

E caminhou ela rumo ao destino


Cruzou-se com o batalhão of freedom


O capitão reparou na sereia e ela ofereceu um cravo

Todos colheram um cravo

Flor que tapou o cano do fuzil da morte

A marcha continuou rumo a vitoria e o sangue não manchou a terra que pisamos


Esta é a revolução de abril meu amigo

Uma tão bela historia


Já passaram trinta e três anos

A opressão do cifrão continua e novos caciques têm o poder

Há uma luta quotidiana para se ter um status social

Vendemo-nos para ser belos, vendemo-nos para ser ricos

O que passa na rua não nos interessa


Em cada posto não há igualdade

Esquecemo-nos o difícil que foi ter essa liberdade que gozamos


O suor de nossos pais e avós ficou perdido no tempo

Ficamos adormecidos na ânsia do capital

Não interessa o sonho

Não interessa os valores


Interessa o maldito cifrão!


Heróis de Abril...

Não quero que se vos esqueçam

Não quero que se evapore o pólen do cravo

Quero que meus filhos bebam o licor da revolução

Quero em cada esquina um amigo


Quero que seja perene


Quero a sombra da azinheira e não do cifrão

Quero que esses ares de abril se respirem todos os dias

Que não se repita a opressão.


Quero renovação para a Humanidade com a humildade de uma flor

Não vês?

Nessas pétalas está o legado






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