Anoiteceu como em tantas outras noites
Lá fora. A brisa fria de Abril sensibilizava os corações dos puros que na gélida noite arriscavam tudo.
Arriscavam tudo para que amanhecesses feliz.
Para que todos vivessem livres da hipocrisia e opressão.
Para todos sorrirem
E assim aguardavam o sinal.
O sinal que os tornaria valentes heróis da mais bela passagem da humanidade.
A marcha ecoou pelas ondas da radio.
A sinfonia de liberdade e fraternidade sobre a aldeia com postos de igualdade sob a sombra de uma azinheira poderia tornar-se realidade...
E assim foi dado o sinal.
E assim os valentes heróis marcharam sobre a velha Hulissipone
A fria noite suspirava ares de mudança.
O país dormia. Os sonhos amparavam os nossos incógnitos heróis.
O batalhão dirigia-se ao centro do poder opressor montado em velhas chaimites já nessa altura em desuso.
O medo transpirava pelas suas frontes de ingênuos peãos de xadrez.
Não podiam recuar. Não podiam ser julgados.
Caminharam e amanheceu.
Chegaram à cidade.
Deslumbraram-se com a bela princesa do Tejo
O sol começava a iluminar as fachadas barrocas. O sol dava o cintilante tinte dourado ao esplendoroso rio Ibérico que serpenteia até ao atlântico já na esquina.
A jovem naíve sereia deste dia especial preparava-se para o trabalho seu ganha pão.
Colheu as belas flores da primavera que o seu coração indicou
Dirigiu-se para o destino.
O fim de um regime nefasto
Caminhou ela por uma cidade estranhamente deserta.
O pelotão de nossos bravos encontrou-se com outro batalhão a mando das sanguessugas ao poder
Os olhares dos samurais encontraram-se entre as G3 (baionetas do nosso tempo).
Aí um brilho inusual cintilou nas retinas dos guerreiros.
Irmão frente a irmão nenhuma gota de sangue deve ser derramada
E assim um abraço os uniu para o novo caminho
Uma nova existência
Nossa musa chegou ao restaurante. O patrão exigiu que voltasse para casa.
Que dados estavam lançados para a revolução
E as flores! Disse ela
Volte para casa menina
E caminhou ela rumo ao destino
Cruzou-se com o batalhão of freedom
O capitão reparou na sereia e ela ofereceu um cravo
Todos colheram um cravo
Flor que tapou o cano do fuzil da morte
A marcha continuou rumo a vitoria e o sangue não manchou a terra que pisamos
Esta é a revolução de abril meu amigo
Uma tão bela historia
Já passaram trinta e três anos
A opressão do cifrão continua e novos caciques têm o poder
Há uma luta quotidiana para se ter um status social
Vendemo-nos para ser belos, vendemo-nos para ser ricos
O que passa na rua não nos interessa
Em cada posto não há igualdade
Esquecemo-nos o difícil que foi ter essa liberdade que gozamos
O suor de nossos pais e avós ficou perdido no tempo
Ficamos adormecidos na ânsia do capital
Não interessa o sonho
Não interessa os valores
Interessa o maldito cifrão!
Heróis de Abril...
Não quero que se vos esqueçam
Não quero que se evapore o pólen do cravo
Quero que meus filhos bebam o licor da revolução
Quero em cada esquina um amigo
Quero que seja perene
Quero a sombra da azinheira e não do cifrão
Quero que esses ares de abril se respirem todos os dias
Que não se repita a opressão.
Quero renovação para a Humanidade com a humildade de uma flor
Não vês?
Nessas pétalas está o legado
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